A gente ama quando celebra relações

Guilherme Sant'Anna
2 min readNov 23, 2021
Praça Mário Saraiva, em Jardim Sulacap — Rio de Janeiro, RJ

Nesta praça demos nosso primeiro beijo. Uma noite de novembro, duas bocas, dois corpos enfim se encontraram, encarnando o encontro de almas já ocorrido antes. Pode-se beijar sem amar — muita gente o faz. Pode-se amar sem beijar — também é comum. Nenhum desses era o nosso caso. Para mim, aquele beijo era a celebração da magia do nosso encontro. A beleza da nossa relação agora aparecia também nos lábios.

Aqui também, anos depois, plantamos uma árvore. Quem sabe se um dia outros casais se beijarão em sua sombra? Crianças se sentarão para brincar e conversar? Me peguei pensando nessas coisas, pensando sobre o amor. Porque esse é o ofício do amor: o de unir partes que se desejam, sejam bocas apaixonadas, amigas/os que querem conversar, etc. Mas de unir, também, partes que nunca saberão da existência uma das outras, como os casais que se beijarão à sombra da árvore plantada por um outro casal, que se beijou numa praça planejada e construída por outras partes que agiram em nome do amor, sabendo ou não. Uma espécie de amor latente e, ao mesmo tempo, exponencial.

Experimentar o amor é honrar e celebrar os laços que necessariamente nos unem, é elogiar nossa dependência existencial, é tocar um no outro e se deleitar no toque. Há relações em toda a parte, a grande maioria delas distantes da nossa atenção. Só que quando a gente olha pra uma relação e sente um carinho especial, uma afeição que emociona, aí estamos abertos e experimentando o amor. Gosto de pensar que a possibilidade de amar se espalha por quase tudo, mesmo que eu não a reconheça ou não esteja receptivo às suas manifestações. Nesta praça, com a sombra dessa árvore, espero ter facilitado a oportunidade de que mais gente tenha momentos como o que vivemos. Colaborando, assim, com a experiência e a celebração do amor.

A árvore que plantamos

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Guilherme Sant'Anna

Psicólogo. Escrevo pois a existência me exige; publico os escritos por saber que as exigências vêm em diversas formas, e as palavras nos ajudam a respondê-las.