Dia da Terra — saúde do solo é também saúde humana

Guilherme Sant'Anna
3 min readApr 23, 2021
Foto por Gabriel Jimenez no Unsplash.

Dia 22 de abril foi instituído como o dia da Terra, uma data de conscientização pela proteção ambiental. Sempre achei curioso que o nome que damos ao nosso planeta seja o mesmo que usamos para chamar o solo. Já os nomes de todos os outros planetas do sistema solar derivam da mitologia greco-romana. A Terra tem oceanos que cobrem quase 70% da sua superfície, magma muito quente no interior, uma atmosfera que permite a vida, mas o nome do planeta vem do solo, da terra. E isso não só em português, mas em muitos idiomas. Mesmo que não se saiba ao certo o porquê, desde a antiguidade, chamamos o planeta de “Terra”. Gosto de pensar que os povos antigos sabiam da importância do solo para suas vidas, a ponto de usarem esse nome para designar o planeta. A preocupação com o cuidado do solo, uma das diversas frentes da proteção ambiental, se mantém mais atual que nunca.

O solo é vivo, essa é uma das compreensões propostas por Ana Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil. Ele não é simplesmente um punhado de elementos químicos do qual podemos nos utilizar para produzir alimentos. Tampouco uma propriedade humana, uma vez que dele depende não só a nossa sobrevivência, mas de toda a vida no planeta. Ana mostra que o solo sadio contribui para plantas sadias, e plantas sadias para bichos sadios — os humanos incluídos aí também. Em “Manual do Solo Vivo” ela diz:

“Toda a vida em nosso globo depende do solo: as plantas, os alimentos, o oxigênio produzido pelas plantas e pelo plâncton do mar que, por sua vez, vive da matéria orgânica que vem dos continentes; os peixes que vivem do plâncton e toda a cadeia alimentar que vai desde os camarões, lagostas e pinguins, até os ursos polares e as aves marinhas; e mesmo a água nos aquíferos, os lençóis freáticos, poços e rios, que dependem da infiltração da chuva nos solos e que são permeabilizados pela atividade dos micróbios, que agregam a terra durante a decomposição da matéria orgânica vegetal. Estes também decompõem animais e homens mortos, para que nosso planeta esteja sempre pronto a receber nova vida e não viaje pelo espaço somente com uma enorme carga de cadáveres de animais e vegetais. Os micróbios igualmente decompõem tudo o que é deficiente, doente, fraco e velho. A vida não pode degenerar; ela tem de permanecer forte e vigorosa para continuar através dos milênios. O solo é o alfa e o ômega, o início e o fim de tudo. E mesmo se até 98% da população viver em cidades, como nos EUA, o alimento, a água e o oxigênio vem do solo e das plantas que ele produz.”

A vida no planeta depende do solo, por isso é preciso repensar a forma como o cultivamos. Atualmente, na agricultura convencional, é comum se plantar de maneira a empobrecer e desequilibrar o solo; comum também se considerar apenas o nitrogênio, o fósforo e o potássio na adubação, capazes de formar um legume bonito, mas pouco nutritivo; de se usar venenos químicos para matar pragas; de se realizar monoculturas que, cada vez mais, acabam com ecossistemas e reduzem a diversidade de alimentos que consumimos.

Mas também são possíveis, como a agroecologia e, antes dela, os povos tradicionais ao redor do mundo propõem, modos de cuidar do solo que o mantêm vivo. Uma agricultura que conserva energia e armazena carbono no solo, em vez de extraí-los; que compreende o papel dos micronutrientes na formação de plantas saudáveis; que favorece a diversidade de culturas em vez das monoculturas em latifúndios; que entende que pragas sinalizam deficiências no solo.

É possível, enfim, cuidarmos do solo com uma compreensão ecológica, e não visando lucrar com sua destruição. Que possamos, não só no dia da Terra, praticar e favorecer iniciativas que cuidam da saúde da terra, da nossa saúde.

Guilherme Sant’Anna é psicólogo (CRP 05/57577) formado pela UERJ e atualmente cursa o mestrado em Psicologia Social nessa mesma universidade. Ele realiza atendimentos de psicoterapia online, se você quiser entrar em contato pode fazê-lo pelos seguintes meios:

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E-mail: guilhermesantpsi@gmail.com

Originally published at https://www.sulacapnews.com.br on April 23, 2021.

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Guilherme Sant'Anna

Psicólogo. Escrevo pois a existência me exige; publico os escritos por saber que as exigências vêm em diversas formas, e as palavras nos ajudam a respondê-las.