“Você me ouviu”: o poder singelo da escuta

Guilherme Sant'Anna
2 min readMar 23, 2023
Foto de Marek Piwnicki na Unsplash

Há algumas semanas recebi um dos melhores elogios que posso receber no meu trabalho como psicólogo. Ele foi simples, mas, nessa simplicidade, valioso. Após conversar pela primeira vez com uma pessoa que buscava atendimento psicológico, alguém bastante descrente no próprio processo terapêutico, ela me disse:

Foi bom conversar com você, você me ouviu mesmo.

Isso me alegrou muito. Não me interessava mudar a opinião dessa pessoa com relação a terapia, ou que déssemos grandes saltos e ela saísse transformada após esse primeiro contato. Tem algo velado nesse “você me ouviu”, sobre o qual não costumamos pensar muito, e é o seguinte: se sentir ouvido/a pressupõe ser possível expressar o que se sente, e, mais difícil ainda, ser possível que outra pessoa compreenda o que se expressou e que essa compreensão seja comunicada de volta.

“Você me ouviu” pressupõe, pelo menos, esses três fatos. Ainda que ouvir pareça óbvio, ter esse retorno da pessoa que atendi foi maravilhoso porque vejo mágica nisso. A expressão por si só já é bastante complicada — tantas vezes nem sabemos direito o que vivemos, como, ainda por cima, expressá-lo?. Achar que outra pessoa te entendeu, além disso, talvez seja mais raro. Aí tem uma mágica fascinante.

E chamo de mágica não só por ter um quê de inexplicável, mas porque qualquer pessoa que já tenha sentido solidão sabe do poder transformador da compreensão. Neste mundo com uma forte tendência à individualização, é bom saber que ainda existe espaço para a escuta e que posso participar da sua realização.

Guilherme Sant’Anna é psicólogo (CRP 05/57577) e mestre em Psicologia Social formado pela UERJ. Ele realiza atendimentos de psicoterapia online e, se você quiser entrar em contato, pode fazê-lo pelos seguintes meios:

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E-mail: guilhermesantpsi@gmail.com

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Guilherme Sant'Anna

Psicólogo. Escrevo pois a existência me exige; publico os escritos por saber que as exigências vêm em diversas formas, e as palavras nos ajudam a respondê-las.